De fábrica.

Senti-me enterrando aquilo tudo,grão de areia por grão de areia. Aquele buraco em mim - aquele que eu tenho no meio do peito,que comprime minhas costelas e coração - nunca pareceu tão adequado. Ele não era a ausência de um coração,e sim a repressão naquele gigante que eu tenho.
Nasci com defeito.
E nele,está a metáfora de esmagar-me. Vitimizar-me. Porque,no fim das contas,creio que eu nunca fui vítima. Aquela que aceita também deve ser culpada. Massacrada. Isolada.
Mas eu não o fui. Eu tive aquele afago,aquele carinho daquele que eu admirei,mas quem eu nunca esperei. E eu o apreciei. Tomei-o pra mim. E ele veio e fez-se meu. Eu podia guardá-lo numa caixinha e chamá-lo de meu.Meu,meu,meu.Podia cantar isso por horas,e horas,e horas,e horas. Nunca fechei a caixinha. Tinha medo que ele fechasse a minha também.
Mas eu dançava sozinha.
Ele sabia do meu buraco,meu vácuo. E lamentava-se por amar alguém que não tinha coração.
Foi quando ele decidiu ir embora. Uma dor estonteante afogou-me. Meu coração palpitava,amando. Ele existia. Ele o queria. Ele sangrava de tanta lágrima que chorava.
Ele não podia ir embora,ele não podia.
E ele ficou...Sorriu-me...Ele me amava.Ele me ama.
Ele me ama.

Meu coração cresceu a tal tamanho que hoje quando palpita,minhas costelas doem.Mas creio eu,que a dor pra mim é sentença.Eu nasci com defeito.É que meu coração não sabe bater direito...

Pedi pra que ele arrancasse de mim aquilo que palpitava em meu peito,porque dor era o que eu merecia. Os olhos dele pareciam prestes a se romper em desgosto,a boca encrispada numa linha fina e tremeluzente. Os braços cruzavam-se,negando meus afagos. Joguei-me ao chão,em prantos. Eu preferia socos e gritos. Eu preferia ser espancada. Sangrar. Queria que ele me enchesse de hematomas. Mas ele sabia. Foi muito pior.
As palavras dele me morderam,venenosas e magoadas. Parei,estática. Encarei-as. Os olhos dele não choravam,mas encaravam-me sem piscar,numa agonizante decepção.
Fechei os olhos,e as palavras materializaram-se em espinhos e cravaram-se em meu peito.
Eu quis arrancar meu coração com as mãos,tamanha a dor cortante que me presenteavam..Porém,quanto mais eu segurava-o com força,mais os espinhos afogavam-se.
Quanto mais ele sofria...Mais eu queria morrer.


Resolvi matar o branco hoje.
Assassinei os minutos a secos golpes de faca pra achar uma frase que se encaixasse aqui.
Ei-la:
" Apaixonei-me pelo vazio,gostei menos de mim do que do que não existe. "
e fim.