Menina-Noite.

Ela continuava com os olhos pregados, decidida.Apesar dos cabelos fortemente tingidos num azul-índigo, os seus olhos eram o que mais chamava a atenção.Eram curiosos...sedentos, mas não secos de desejo. Eram suplicantes, inocentemente suplicantes, e me prendiam como ventosas. Ela soube me hipnotizar, e tive uma estranha sensação de que aquela atração a ela só acontecia comigo.
Ela era toda, inteira, um grito por atenção, ou talvez só tivesse gostos estranhos.Seu colorido me parecia um disfarce, pois nela eu só conseguia enxergar escalas de cinza. Cinza, ela era um vácuo que ansiava ser preenchido.E parecia que, apesar de todos os esforços, para o mundo, ela era preta-e-branca. Seus olhos cantavam uma cantiga tremeluzente...e estava tão alto que quase levei as mãos aos ouvidos.
Ninguém a notava,e se notava- surpreendi a mim mesmo por estar nesse grupo-não tinha a coragem de retribuir o olhar. Que criatura seria ela? Que olhos eram aqueles, que pareciam estar prestes a arrebentar-se? Eu não conseguiria olhar pra ela de novo, mas também não queria ser o próximo a ignorá-la. Não que ela me desse pena- afinal, era fascinante- mas...eu sentia medo. Medo como uma criança. E nesse momento, não sei porque, senti um ímpeto incontrolável de mergulhar naquela piscina de cabelos azuis. Tal ímpeto,que minha garganta queimava.
Me perguntei quantos garotos haviam feito isso antes, e minha respiração calou-se por alguns segundos. Foi quando lhe direcionei o olhar.
Ela respondeu-me de um modo cálido e suave,mas eu não vi mais nada focado,pois o mundo tremia à minha volta. Levantei-me do meu lugar. A passos decididos- eu até duvidei de mim mesmo- meu super-ego deixou de dominar-me as pernas. Eu nem parecia eu. Eu sumi.
Foi meu desejo que chegou à sua mesa e mansamente inclinou-se na direção da menina-noite,para plantar-lhe nos lábios um beijo.