Maio.



Nasci em um dia de outono. Devia estar chovendo.
Todos os meus aniversários chovem.
Sou assim, só sei chover.
Lembro-me de um projeto de menina vestida de bailarina, com o nariz pro lado de fora do portão de madeira esperando os convidados chegarem ao seu aniversário. E talvez não viesse ninguém...
É a chuva, minha mãe dizia.
Gosto de maio. As folhas caem, as árvores ficam coloridas. O chão fica laranja, vermelho, amarelo. O vento gelado, a chuva que gela os ossos. Eu gosto... Gosto de maio. Do gosto meio doce de maio.
Solto os cabelos e o vento os acaricia. Beija meus olhos e alisa meu rosto. As poças frias molham meus pés enregelados dentro dos tênis velhos e sujos. Os castanhos parecem mais brilhantes.
Nunca aprendi a dançar. Nunca aprendi a esperar. Nunca soube ser só.
Aprendi a enfeitar cada minuto que passo nos dias de outono, caminhando pelas alamedas, beijando ternamente folhas secas com os olhos.

Se gotas de chuva, folhas de outono e contos de fadas pudessem ser uma pessoa, essa seria eu.

Não sei se são meus olhos que são enuviados, mas o mundo me parece meio desbotado... O verde da grama me parece tão pálido. O chão me parece tão sujo. A luz me parece tão fraca... e as árvores, tão mal vestidas. Às vezes eu queria aquarelar o mundo. Colori-lo nas mais bonitas cores. As flores seriam multicoloridas. O arco-íris seria fosforecente. Os sorrisos seriam brilhantes. As lágrimas seriam bonitas. Andar descalço não seria um problema. As pessoas seriam livres para brincar de chuva, ou para adormecer em um monte de folhas secas.
O céu não teria motivo algum para se vestir de cinzas.