Maio.



Nasci em um dia de outono. Devia estar chovendo.
Todos os meus aniversários chovem.
Sou assim, só sei chover.
Lembro-me de um projeto de menina vestida de bailarina, com o nariz pro lado de fora do portão de madeira esperando os convidados chegarem ao seu aniversário. E talvez não viesse ninguém...
É a chuva, minha mãe dizia.
Gosto de maio. As folhas caem, as árvores ficam coloridas. O chão fica laranja, vermelho, amarelo. O vento gelado, a chuva que gela os ossos. Eu gosto... Gosto de maio. Do gosto meio doce de maio.
Solto os cabelos e o vento os acaricia. Beija meus olhos e alisa meu rosto. As poças frias molham meus pés enregelados dentro dos tênis velhos e sujos. Os castanhos parecem mais brilhantes.
Nunca aprendi a dançar. Nunca aprendi a esperar. Nunca soube ser só.
Aprendi a enfeitar cada minuto que passo nos dias de outono, caminhando pelas alamedas, beijando ternamente folhas secas com os olhos.